segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

No despejo da Fazendinha,
a verdadeira cara
da “cidade-modelo”

Em 23 e 24 de outubro de 2008, Curitiba foi manchete na imprensa nacional. Passou no Jornal Hoje, no Jornal Nacional, esteve entre as “imagens do dia” nos principais portais de internet, mereceu foto na primeira página da Folha de S. Paulo.
O motivo, porém, desse destaque não foi a nova versão da propaganda sobre a cidade-modelo, mas a dura realidade da falta de moradia e da luta de classes.
Numa ação a que não faltaram balas de borracha e bombas de efeito moral, cerca de 1000 policiais, inclusive da Tropa de Choque e da cavalaria, violentamente despejaram milhares de pessoas que ocupavam uma área de 170 mil m2 na rua João Dembinski, a chamada “Ocupação da Fazenda”. Uma ampla operação, enfim, paga com dinheiro público, para, ao mesmo tempo, criminalizar os pobres e deixar ainda mais rico um dos mais poderosos grupos econômicos paranaenses e brasileiros.

Cidade-modelo?

Nas eleições municipais, o PSOL de Curitiba e a candidatura de Bruno Meirinho tomaram como eixo essencial a denúncia do mito da cidade-modelo e a caracterização de Curitiba como um modelo de exclusão e segregação sócio-espacial. Contra isso, propusemos a socialização da riqueza da cidade (a quarta mais rica do Brasil). Nesse contexto, o tema da moradia foi um dos eixos de nosso programa de governo. Em especial, denunciamos que o déficit habitacional no municipal, calculado pela Fundação João Pinheiro em nada menos do que 40 mil famílias (cerca de 200 mil pessoas), convive com a existência de cerca de 60 mil imóveis vazios.
O tom dominante da propaganda eleitoral, contudo, foi substancialmente diferente. Em essência, o prefeito Beto Richa afirmou aos curitibanos que a cidade não apresentava nenhum problema grave e que ele era o melhor prefeito do Brasil. A “oposição”, por sua vez, concordou que a cidade tinha coisas “boas”, afirmando apenas que elas poderiam ficar ainda “melhores”.
Assim, nesse clima de pensamento único, a imensa propaganda e o amplo pacto político da elite curitibana levaram, o prefeito Beto Richa a reeleger-se com quase quatro de cada cinco votos válidos.
Mas as eleições passam, e a realidade permanece. Pouco mais de duas semanas após o primeiro turno das eleições municipais, o conflito na Fazendinha explicita a gritante contradição entre discurso e realidade em nosso município.
Inicialmente, a decisão da Justiça – com a marca de classe que lhe é tantas vezes característica – fez prevalecer o “direito de propriedade” (sempre exigível) a um dos mais elementares (e nunca exigíveis) direitos humanos, o direito à moradia digna.
Em seguida, o poder público formalmente “lavou as mãos”, esvaziando e mesmo ignorando a dimensão política das questões sociais. A prefeitura e, notadamente, o prefeito Beto Richa – tão loquaz durante o período eleitoral – abrigaram-se num silêncio quase absoluto, como se o despejo estivesse por acontecer nos cassinos de Las Vegas. O governo do Estado e a secretaria de Segurança “deram de ombros”, como a afirmar que nada mais lhes restava a fazer que cumprir a ordem judicial. Ao fim, restou à população e às organizações sociais – além dos cassetetes, balas e escudos da Tropa de Choque – a oportunidade de verificar, pela prática, com quem pode e com quem não pode contar nos momentos de luta, presentes e vindouros.

Solidariedade e Repúdio

Diante desse quadro, o PSOL de Curitiba, por meio de seu Diretório Municipal, vem a público manifestar nossa solidariedade com ao povo da Ocupação da Fazendinha e sua luta pela moradia digna. Do mesmo modo, manifestamos nosso mais veemente repúdio à ação de despejo, fundamentada no princípio da criminalização dos pobres, da pobreza e dos movimentos sociais, do que deu mostras tanto a decisão judicial em favor da “reintegração de posse”, quanto a brutal e injustificada violência da ação policial que a cumpriu.
Igualmente, saudamos os militantes e movimentos sociais envolvidos nessa luta, com os quais compartilhamos o ideal de transformação da sociedade capitalista em favor das classes trabalhadoras. A todos aqueles a quem a miséria e a violência de classe causam a mesma indignação que sentimos, lançamos o chamamento para que participem da luta política contra o mito da cidade-modelo em Curitiba e a elite econômica que dele se beneficia.
PSOL/Curitiba Nota Pública
Negrito

Partido Socialismo e Liberdade
Diretório Municipal
Curitiba – PR

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


No início da ocupação, o acampamento de algumas famílias no latifúndio urbano de C. R. Almeida. Mas a demanda por moradia na capital modelo é tão grande que, em poucas semanas...


Aqui já o acampamento provisório (que dura até hoje) no acostamento da rua em frente ao latifúndio. A resistência não é apenas o resultado das pressões da necessidade, é uma atitude política!